Cidade do interior é ótimo.
Apesar de suas desvantagens, a maioria relacionada a fuxico
de quem não tem o que fazer, as vantagens superam em muito.
A vida transcorre mais calma, sem aquele stress do trânsito
ou insegurança entre outros.
Também acontecem causos que nos fazem rir, refletir ou
chorar.
Esse que eu vou contar agora, me contaram como verdade, mas
não boto a mão no fogo.
Segundo o narrador, ocorreu na cidade de Patu.
Corria o ano de 1977, Patu, cidade pequena havia sido poucas
décadas atrás anunciada como a cidade do futuro uma vez que fora beneficiada
com a linha ferroviária, atualmente definhava sem ter conseguido alcançar a
glória que havia sido prenunciada.
A família Teixeira, família grande mas muito unida, se
reuniu para comemorar o aniversário do caçula, João Pedro que completava seu
primeiro ano de vida.
Filho único e primogênito de Francisco e de Dona Joana, que
se casaram às pressas segundo às más línguas.
João Pedro morava com seus pais, avós e o bisavô, Seu Raimundo numa casa
ampla de alpendres, cheia de quartos, um sotão pra guardar o legume e as
rapaduras.
O terreiro de chão batido de um barro bem vermelho, varrido
diariamente e sombreado com uma frondosa cajarana. Para este casarão como era praxe naquela
época havia somente um banheiro no quintal.
A “casinha” como era chamado.
Seu Raimundo que já há alguns anos rompera a barreira dos
noventa, ainda guardava a tez corada e enrijecida do tempo em que corria por
dentro do juremal da Fazenda Carrasco de propriedade do Cel. Rufino.
Mas apesar da saúde de ferro, Seu Raimundo já estava
trevaliando, ou caducando, como melhor entender, e já não expressava suas
vontades necessitando de atenção especial.
Os muitos meninos da familia comemoravam aquele
aniversário, coisa ainda rara na época, com grande alegria. Brincavam no terreiro, subiam na cajarana, se
esbaldavam no caldo de cana, no dindim e no alfinim, e não deixavam por menos a
paçoca de carne seca e outros acepipes preparados com carinho por Dona Joana.
Mas do que mais gostaram foram das bexigas trazidas por Carlinhos,
tio de João Pedro que morava na capital.
Um dos guris apertou-se e foi pra “casinha”, lá se
descuidou e a bexiga caiu no vaso sanitário ficando a boiar sem que o coitado
tivesse coragem de meter a mão e tirar, saindo desconsolado pra tentar
conseguir outra.
O velho Raimundo já havia comido de tudo um muito, dona
Joana tinha escalado uma criada somente pra puxar alfinim pra o sogro-avô, e de
vez em quando ainda passava pra lhe oferecer uma paçoca ou a buchada de bode
que ele tanto apreciava.
Lá pras tantas como não podia deixar de ser, Seu Raimundo
pediu arrego, correu pra “casinha” e despejou, em cima da bexiga que lá se
encontrava, o fruto pastoso, fedorento e mal digerido de um dia de excessos.
Dona Joana, já sabendo que o pobre coitado não mais podia
pegar a lata d’água pra “dar a descarga” entrou na casinha pra fazer a operação
limpeza.
Ao observar o “produto” Dona Joana correu desesperada e
gritando:
- Chega, chega, que vovô botou a “tripa gaiteira” pra fora.
Correram todos e arrudiaram a “casinha” cada um querendo
olhar e dar seu “parecer”.
O mais aproximado foi o de Carlinhos, moço culto da capital
que tascou:
- Isso aí é um tumor benigno, que se soltou.
O bicho dentro do vaso sanitário cheio, parecia ter vida
própria, se mexia, rodava subia e descia num balé obsceno, horrível, fedorento
e nojento.
Homem se desesperava e mulher passava mal bolando pelo chão
dizendo que era coisa do Demo.
Carlinhos, mais calmo apontou a solução:
- Vamos chamar Doutor Sergio que ele vai nos dizer o que é!
Rapidamente trouxeram Dr. Sérgio, mais novo que Seu
Raimundo pouca coisa. Médico da família
há décadas, embora quase cego ainda era respeitado por seus diagnósticos
acertados.
Dr. Sérgio quando chegou que viu a arrumação se espantou
também. Nunca nos seus 55 anos de experiência havia visto coisa igual.
Parecia que a tese de Carlinhos era a mais acertada, mas
teria de colher o material pra enviar pra Belo Horizonte pra ser examinado.
Colocou os pince-nez de grau mais apurado, pegou o bisturi
que sempre trazia consigo e pediu um pote de vidro limpo.
Nisso a “casinha” tava cheia. Quem não tava dentro, tava
arrudiando do lado de fora pra saber o resultado.
Só Seu Raimundo em seu alheamento se balançava
pachorrentamente no terraço, parecia que aquilo não era com ele.
Quando Dr. Sérgio aproximou o bisturi do bolo fecal, acabou
a zoada e fez-se um silêncio sepulcral.
- Atenção todos que eu vou cortar, disse o médico.
Pooooouuuuuuuuu.
Merda pra todo lado.
Merda dentro de boca de menino, merda na parede, merda no
teto, merda até nos óculos do doutor.
Saíram todos de carreira e se reuniram em volta do
espantado médico.
- O que era doutor? O que era doutor?
Dr. Sérgio fez um minuto de silêncio, pensativo e tascou o
vaticínio.
- Nunca tinha visto, lido na literatura médica, nem sequer
ouvido falar, mas já sei o que era:
- O que era, o que era? Perguntam todos em um coro só.
- ERA UM PEIDO COM CASCA!!!!!